juntos ao luar

(...)

É a noite difícil da lua cheia, a noite em que as minhas recordações vêm à superfície. Nunca deixam de o fazer. Sustenho a respiração ao ver a Lua a dar inicio à sua subida lenta no horizonte, o seu reflexo leitoso a elevar-se mesmo por cima da montanha. As árvores adquirem uma tonalidade prateada cristalina, e embora eu deseje regressar a essas memórias agridoces, desvio o olhar e volto a concentrá-lo no rancho.
Durante muito tempo, espero em vão. A Lua continua a descrever o seu longo arco através do céu, e, uma a uma, as luzes da casa vão-se apagando.
Dou por mim com os olhos ansiosamente fixos na porta da frente, à espera do impossível. Eu sei que ela não vai aparecer, mas não é por isso que me consigo obrigar a ir embora. Inspiro lentamente, como se tivesse esperança de assim a trazer cá para fora.
E quando finalmente a vejo sair de casa, sinto um estranho formigueiro a percorrer-me as costas, uma sensação completamente nova para mim. Ela detém-se nos degraus, e eu fico a vê-la virar-se, dando a ideia de que está a olhar na minha direcção. Fico paralisado sem motivo - sei que é impossível ela ver-me. Do meu poiso, vejo a Savannah a fechar a porta silenciosamente atrás de si. Desce lentamente os degraus e deambula até ao centro do pátio.
Aí pára e cruza os braços, deitando uma olhadela por cima do ombro para ter a certeza de que não veio ninguém atrás dela. Por fim, parece descontrair-se. E então sinto-me como se estivesse a presenciar um milagre, quando, com extrema lentidão, a vejo virar o rosto ao luar. Observo-a a contemplar a lua cheia, a sentir a corrente de emoções que ela desencadeou e a desejar apenas dizer-lhe que me encontro aqui. Porém, ao invés, deixo-me ficar onde estou e dirijo também o olhar para a Lua. E, por um breve instante, quase tenho a sensação de que estamos novamente juntos.

NICHOLAS SPARKS

Dear John